domingo, 25 de dezembro de 2011

CAPÍTULO XXVII - Quando Tudo Está Perdido




CAPÍTULO XXVII

Quando tudo está perdido





         Foram anos de dor. Matar o amor que tive por ela, foi como matar um filho, mesmo não tendo um, comparo a essa dor de proporções extremas, tamanho sofrimento de meu ser. Andar sobre montanhas de agulhas em abismos profundos, feriram minha carne, mas jamais minha alma. Mas como dizem, “A sorte favorece os bravos e corajosos” eu jamais perdera a esperança. A maior das esperanças, era de algum dia eu ter a oportunidade de desenterrar o “filho” que tive que matar para seguir meus dias. No silêncio de mil noites, nas estrelas que não cessam seu brilho na miríade que se espalha sob o firmamento, minha agonia estendeu-se por mais dias que pude contar. Petrificado em minha alma, o coração da dama de vestido negro permeia meu ser, de forma avassaladora. Hoje, homens caem ao seu deleite, pelos olhos cor de mel e de lábios, fervorosos como o calor do Sol.
           Não haveria outra companheira em meus dias. Mas eu jurara que jamais teriam o meu amor, que ele seria intocável, selvagem e incomparável. Desde o dia em que meus lábios não tocaram mais os lábios de minha amada, eu fora amaldiçoado pelos Deuses; Deixarás de amar tal dama, mas jamais poderás amar novamente ou amarás eternamente aquela que lhe privou de lábios únicos e jamais será correspondido por ela.
             Fora isso que me tornei. Eu guardo o amor por aquela que não mais tocará minha pele, que não sorrirás nas manhãs que por virão; não terei o afago, o amparo e seu abraço. Eu serei o eterno amante da dama de vestido negro, que das chamas me salvara...Mas nem tudo havia sido perdido. O amor que sinto por ela, fora selado em meu interior. Resta-me a dor de ter selado meu amor por ela por um feitiço. Deuses foram impiedosos, mas as Deusas generosas. Se ela olhar em meus olhos, e disser do fundo da alma dela, que me ama, o selo se romperá e serei novamente agraciado pelo amor que fui privado. E quando isso ocorrer, eu terei uma noite ao seu lado, e no primeiro raio de Sol da manhã que virá, eu me encontrarei com a Morte. Esse é meu fardo. Morrer amando e sendo amado, ou viver para todo sempre sem o amor que tanto procuro.
           Sinto a brisa em meu rosto, tão suave e delicada, que parece uma carícia em minha pele. Isso me remete a lembranças, onde tudo que conheço era mais nobre, igual e verdadeiro. Uma época em que o mundo era jovem. Um homem era rico por seu coração, e não hoje, onde ele é rico por aquilo que ostenta e tem posse. Uma era onde homens desafiavam a fúria dos opositores, não importando a origem. Uma era onde a liberdade e coragem morava no coração dos justos. Hoje, a cobiça é que mora no coração dos homens, e os poucos de coração justo andam entre as sombras. A dúvida ainda é o percalço de meus dias. Vagar nas sombras da solidão ou morrer no leito de meu amor. Fora então que algo sem precedentes em meus dias ocorrera; julgo de magnitude fora dos padrões e da cultura conhecida pelos homens. Tamanha grandiosidade, que por azar do destino, terei que narrar com palavras, pois a cena em minha mente é uma constante latente. Um faixo de luz, que em plena noite, clareia o breu que por ela é destinado à ocultar o brilho do Sol, que tende algumas horas esperar para levantar de seu breve sono; mas nessa noite, o brilho de muitos Sóis clareou a noite profunda; eu vi, dentre as nuvens tal faixo, de luminosidade única, rasgar os céus, parecendo uma estrela caindo do firmamento; eu sentia o imenso calor vindo dela, mesmo eu estando a centenas de quilômetros de tal fantástico evento. Ao chocar-se com o solo, tamanho estrondo fez meu corpo todo estremecer, de quão uníssono fora tal impacto. Minha visão turvou-se por meros instantes, e o que vi em seguida, julgava ser alucinações de minha mente fadigada, mas não, por mais fadigado que esteja, o que vejo está diante de meus olhos e por mais de uma centena de quilômetros; toda a floresta, construção ou qualquer forma de vida fora consumida pela onda de impacto de tal faixo de luz que irrompeu sob a terra; o fogo agora cobria tudo o que minha visão alcançava, e quanto mais eu olhava, maiores eram as chamas. Resta-me saber a imensidão e proporções mais exatas de tal catástrofe. Subo em minha montaria e parto para um monte que está a algumas centenas de metros, para ver tudo o que ocorrera com uma visão mais ampla. Foi quando eu fui indagado por um homem, que parecera surgir das chamas.
         - Mas o que é isso!! O mundo todo está coberto por chamas! Diz o misterioso homem a alguns metros a minha frente. Ele estava em estado de choque, com as roupas em trapos e chamuscada.
          - Eu não sei a extensão exata disso, caro amigo mas irei adiante e subirei aquele morro para ver até onde isso se estende; se é o mundo que está em chamas ou se é algo inédito em nossos dias.
          - Então irei contigo! Diz ele partindo de imediato ao estábulo para pegar a sua montaria, que estava próximo a sua casa, da qual agora está com as estruturas abaladas pelo baque que a terra dera quando houve o misterioso impacto.
           Fora agora que havia percebido, que talvez tenha me enganado. Tal homem talvez não seja uma mera pessoa, pois era notável tamanha desenvoltura, massa muscular e manejo com o seu cavalo. Talvez seja um soldado, mercenário, legionário ou apenas fruto de minha imaginação. Seguimos para o morro que estava logo a nossa frente. Deve ter em torno de noventa metros de altura com uma estrada em caracol que contorna toda a sua extensão. Em trote acelerado subimos e de lá pudemos ter uma noção mais precisa de tamanha efeméride. Não sei como narrar o que vi. É de tamanha grandiosidade que penso que resta apenas eu e esse tal homem misterioso vivos no mundo. De lá de cima, vira as chamas de uma visão única; e eu tive noção exata que aquilo não eram meras chamas, mas sim, fruto de algo maior que não ouso imaginar. Eu pude contar nove circulos concêntricos de chamas, cada qual sobrepujado por uma maior, sendo um dentro do outro, cada qual em tamanho decrescente; por conhecer a região, eu constato que o maior tem em torno de dez quilometros de diâmetro, sendo o próximo, de nove quilômetros, até chegar ao último, que devia ter no máximo um quilômetro.
         - Então é isso... Disse o homem misterioso, observando tudo com uma atmosfera temerária e receosa. 
          - Mas afinal, como se chamas? Digo a ele, para saber com quem exatamente estou falando.
          - Alester. Esse é meu nome. Mas agora não carece de apresentações formais. Estamos sem condições de nos aventurarmos por dentre as chamas.
         Era uma verdade isso que ele dissera. Nenhum de nós, tinhamos condições de adentrar, enfrentar as chamas ou sabe-se o que tenha por dentro dessa área atingida.
          - É aqui que nos separamos. Pois meu destino está para o outro lado, aquém daquelas chamas e destruição. Desejo sorte para onde quer que vá. É um fato de grandiosidade inominável que ocorre o que vemos diante de nossos olhos, mas minha vida, minha alma requer apaziguamento...


Continua...









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